quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Manière?...








Eram 03h45min da madrugada e como odes dissonantes, toca o despertador quebrado. Ele que não deveria mais despertar, pois de tão velho, a pilha gasta, por vezes atrasava, o que equacionava de não acompanhar o tempo, este que estava sempre a sua frente impaciente e frêmito... O despertador já cansado e desistente de tanta pressa esquece-se de correr atrás do tempo e passa a existir no vácuo das horas... As suas horas... Talvez por isso eram desconsideradas pelos homens sãos, apenas os loucos ousariam considerá-las, hermeticamente falando...
Lafaiete não era um despertador comum, sobre uma cômoda de mogno ele repousava e o tempo tentava destituí-lo, mas indiferente ao senhor das horas ele despertava para continuar vivendo e ser livre do tempo o seu algoz mais cruel.
Ninguém o notava fisicamente falando, tantos souvenires coloridos sobre a cômoda e ele transparente e com um pouco de pó, era camuflado pelo espalhafato daqueles pequenos universos ambulantes... Perfumes, cremes, livros... Teorias... Brincos de perola, uma caixinha de música, um relógio de pulso e uma pequena bomboniere de cristal com gotas de chocolate Francês...
Toda essa atmosfera pertencia a uma jovem, silênciosa como os vaga-lumes e esquecida das lógicas mundanas. Seus teoremas eram in lócus e Lafaiete o despertador desvairado e hiperbólico a encantava com tanta fartura de ser um transcendente...
Enquanto o tempo por vezes tentava castrá-la... Distraí-la com coisas parcas e superficiais... Ela que sempre bebia até a ultima gota de todas as coisas e o tempo ávido pela destreza não se importa com o que deixa para trás, vai simplesmente passando e por vezes deixa ficar coisas cruciais no meio do caminho.
Mas Lafaiete não permite que se coloque o tempo sobre todas as coisas, sempre que lhe encharcam os olhos o tempo, ele desperta... e então torna-se a jovem um vaga-lume, cheio de silêncio... Mas a explorar o mundo com as suas tímidas asas de infinito...

Amanda Braga

Um comentário:

Washington Machado disse...

Um auto-retrato poético. Muito bom o texto, embora, pareceu-me forçoso a idéia romântica, uma vez que toda essa concepção de tempo se parece um tanto pessimista. Outra coisa foi a pressa com que ele foi feito, tornou-se curto, talvez lhe faltando alguma coisa, deixando uma vontade a mais. Mas a temática é interessante, a escrita rebuscada torna-o um texto autêntico. Muito bom.